quarta-feira, 17 de dezembro de 2014


Assédio moral no relacionamento: 

Você é vítima?


  • Insultos, ameaças, gritos, críticas, proibições e a ridicularização na frente de amigos e família. Submissão, autoestima baixa e até depressão caracterizam a mulher que vive uma situação de agressão moral em sua relação amorosa. A agressão conjugal contra a mulher, geralmente, é silenciosa e, muitas vezes, amigos e até a própria família não percebem as agressões por parte do parceiro. O problema é que essa agressão não deixa consequências físicas e, por isso, muitas mulheres se calam diante desses casos.Os números impressionam. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma em cada três mulheres no mundo é vítima de violência conjugal. Os dados foram publicados em novembro de 2014 na tradicional revista médica The Lance Net. O termo assédio moral apareceu como terminologia oficial em 1998 com a psiquiatra, psicanalista e psicoterapeuta de família Marie-France Hirigoyen. Ela, inclusive, publicou o livro "Harcèlement Moral: la violence perverse au quotidien" (traduzido como "Assédio Moral: a violência perversa no Cotidiano").Aqui no Brasil, o assunto já virou objeto de estudo da advogada e professora da Universidade Pontifícia Católica do Paraná, Tatiana Coutinho Pitta, que lançará o livro Protagonismo feminino: a necessária atuação estatal na proteção da mulher vítima da violência (Editora Boreal). Para Tatiana, que trabalhou no Programa de Proteção à Mulher Vítima de Violência da Cidade de Maringá, no Paraná, o assédio moral faz parte de algo que antecede a violência física e se configura por aniquilar a personalidade da mulher. "É muito mais profundo e vai muito mais além do que a violência psicológica. A mulher que é vítima não percebe que está nesta situação", explica a advogada.É um clima de constantes humilhaçõesPsicólogos explicam que as atitudes hostis são tantas, nestes casos, que o parceiro é capaz até de falar mal do desempenho sexual da parceira na frente dos outros. Aos poucos, essa violência psicológica aumenta e o amor próprio da mulher diminui. Essa agressão moral dentro da própria relação familiar, muitas vezes, antecede a violência física das quais muitas mulheres ainda são vítimas."A violência dentro da própria família acontece de forma costumeira e ardilosa, além de passar despercebida. É um clima de constantes humilhações. O agressor aumenta paulatinamente as ofensas e o menosprezo. O que vai causar muito sofrimento na vítima, resultando em doenças físicas e emocionais", afirma a psicóloga clínica pela USP e terapeuta de casais, Triana Portal.As agressões psicológicas afetam, inclusive, as próprias relações interpessoais e o desempenho no trabalho da mulher que é vítima do agressor moral. "Essa mulher pode apresentar tristeza, comportamento evitativo [de evitar as pessoas] e se afastar dos amigos, por exemplo. Além de perder paciência com os filhos facilmente e guardar para si o que acontece no contexto da família por vergonha ou medo", ressalta a psicóloga.Estratégia do parceiro é enfraquecer a mulher"Na maioria das vezes, a mulher fica nervosa, estressada, vive com medo, esconde a situação dos familiares e amigos, e se torna insegura", analisa o mestre em Psicologia pela USP, Thiago de Almeida. "Geralmente, um dos parceiros não percebe que está sendo assediado moralmente. Pode passar despercebido ou a parceira acreditar que o outro está estressado, nervoso e está descontando seu mau humor na relação", diz o autor do livro "Ciúme e suas consequências para os relacionamentos amorosos".Especializado em relacionamentos, o psicoterapeuta Sergio Savian avalia que o assédio moral nas relações familiares nem sempre é claro porque se manifesta muito mais nas entonações, ou porque está mascarado num tom de brincadeira. "A estratégia da pessoa que assedia é enfraquecer seu par, detonar a autoestima do outro", opina Savian.O problema, conta Tatiana, é que essa mulher vítima é, muitas vezes, vista pelas outras pessoas como a agressora. Ela acaba sendo grosseira, hostil, justamente porque não percebe o que acontece com ela. "Como ela não tem poder de decisão, de autodeterminação, de não poder escolher quem são seus amigos, seu trabalho e suas roupas, fica deprimida, mal humorada, irritada e não percebe que isso acontece por causa da conduta do parceiro. Então, ela se sente culpada e os outros, como familiares e amigos, acham que a mulher é o problema, porque ela é a mal humorada", desmistifica a advogada.Lei Maria da PenhaOutro problema, na avaliação da advogada, é que a Lei Maria da Penha não traz nenhuma punição para o homem que comete esse tipo de violência. "As vítimas de violência psicológica, hoje, são menosprezadas pelo Direito. Se forem à delegacia vão perguntar: cadê a mancha roxa? Onde ele bateu? Quando ele tentou te matar? Eu defendo no meu livro que o assédio moral e a violência psicológica se tornem crimes. Porque aí abriremos as portas de todos os instrumentos de proteção à mulher", relata a advogada Tatiana.Quer entender melhor o assunto?CLIQUE NAS IMAGENS PARA CONFERIR O QUE OS ESPECIALISTAS DIZEM!* Siga o Tempo de Mulher nas redes sociais: Facebook / Twitter / InstagramCurta a FANPAGE da Ana Paula Padrão
  • "Deixar o outro esperando, prometer e não cumprir, dizer e desdizer, criticar, rebaixar, salientar os defeitos, por exemplo, são alguns dos artifícios usados por quem realiza o assédio. O que interessa é colocar o outro para baixo, fazer com o que o parceiro se sinta devedor, assim como não deixar que o outro cresça ou simplesmente seja ele mesmo", explica o psicoterapeuta Sergio Savian."Quem faz o assédio tem como uma das principais armas a chantagem emocional, além de mentir e criar situações que deixam o parceiro desconfiado, na dúvida, com medo ou insegurança", completa o mestre em Psicologia pela USP, Thiago de Almeida.
  • "Os inúmeros danos físicos (doenças psicossomáticas), psicológicos, patrimoniais, morais, sexuais e sequelas ficam como cicatrizes, mesmo depois que essas relações doentias acabam. Algumas pessoas, por exemplo, têm dificuldade em se relacionar depois que passam por uma experiência desse tipo", explica a psicóloga clínica pela USP e terapeuta de casais, Triana Portal."O principal dano é a infelicidade. A pessoa acaba acreditando que não serve para nada, desenvolve o sentimento de culpa e inferioridade", afirma Savian.
  • A advogada Tatiana Coutinho Pitta, que estuda o assédio moral à luz da psicologia, explica que há dois tipos de agressores:Agressores machistas: aqueles que acreditam que o próprio comportamento faz parte do "jeito de ser do homem"."Este é o homem que cresce vendo pai, avô e tio agindo dessa forma. Para ele, "ser homem" significa ser dominador, então, ele se sente dono da mulher por ser machista. Consequentemente, o machismo faz com que ele se torne agressor. Esse tipo de homem, quando passa por um processo de ressocialização, tende a mudar esse perfil", explica Tatiana.Agressores psicopatas: estes, segundo Tatiana, compõem a maior parte dos casos de assédio moral. "Esses agressores, na verdade, se sentem tão pequenos que eles precisam diminuir o outro para satisfazer um pouco essa necessidade de se sentir alguém. O psicopata tem a tendência de praticar esse assédio moral não apenas com a esposa, mas com os filhos também. Ele, infelizmente, não tem cura. Para esse tipo de situação de violência, o indicado é o rompimento", completa Tatiana.
  • Muitas mulheres que apanham pedem desculpas depois. Em vez de se sentirem vítimas, elas acham que são culpadas."Quando eu era gerente do Programa de Proteção à Mulher Vítima de Violência da Cidade de Maringá, atendi muitas mulheres e o principal relato delas é que sentem culpa. O homem faz com que ela acredite que ela é culpada. O perfil do assediador é a insatisfação constante. A casa não está boa o suficiente, os filhos idem, a mulher nunca é bonita e inteligente o suficiente. Essa mulher sempre está enxugando gelo e tentando suprir este anseio dele. A maior parte delas diz: ele é bom marido, traz tudo para dentro de casa. Ela não consegue sair desse ciclo", reforça Tatiana.
  • "Vai depender de cada situação e de cada mulher", avalia Thiago de Almeida."Muitas, apesar da violência, preferem dar mais um voto de confiança ao parceiro esperando que ele melhore ou mude, outras entendem que o parceiro pode estar doente e esperam que ele aceite um tratamento e melhore. Cada caso é um caso, mas, infelizmente, o melhor seria a mulher terminar o relacionamento e tentar ser feliz sem ter que passar por situações de violência doméstica, assédio moral, medo e insegurança", opina o psicólogo pela USP.
  • As pessoas costumam questionar as razões para essa mulher não sair dessa teia de agressão. Tatiana conta que pesquisas recentes demonstram que a mulher leva cerca de 10 anos para romper com esse ciclo da violência porque há muitos fatores que a levam a manter este ciclo.E esse período sempre oscila entre momentos de sedução, explosão, os pedidos de desculpa e a fase da lua de mel. "Ou seja, a mulher acaba sempre tendo seus ganhos secundários. Ela está presa nessa teia, e quando o homem tem a explosão de violência, em seguida, vêm os pedidos de desculpa, choro e a demonstração de um possível arrependimento. É como se ela ficasse cega", afirma a advogada.
  • "É muito difícil "arrumar esta casa", pois a dinâmica psicológica estabelecida é bastante doentia", opina o psicoterapeuta Sergio Savian."Cada caso é um caso. Digo que, se existe amor se deve tentar, mas é claro que em alguns casos o melhor mesmo é partir para outra. Normalmente, esse padrão de conduta é difícil de curar, pois são arraigados, muitas vezes de geração para geração, onde o agressor viveu isso na sua própria família e tende a repetir na vida o modelo aprendido", avalia Triana Portal.
  • "Muitas mulheres aceitam essa situação porque gostam do parceiro e não querem desagradá-lo. Outras porque têm medo do companheiro e se submetem a essa situação porque têm receio de apanhar, sofrer qualquer tipo de violência, seja física ou moral", opina o mestre em Psicologia pela USP, Thiago de Almeida."A mulher se enfraquece, perde as forças, se sente oprimida, tem medo, se acha culpada, merecedora e aceita passivamente", diz Triana Portal.
  • "Muitas pessoas ficam deprimidas, estressadas ou adquirem outro tipo de problema psicológico. Muitas demoram a confiar novamente em outro homem e podem precisar da ajuda de psicólogos e psiquiatras para voltarem a ter uma vida normal novamente", diz Thiago."Muitos homens, por exemplo, não aceitam o término do relacionamento e continuam a assediar a ex-parceira, mesmo ela não o querendo mais e mesmo ela, muitas vezes, tendo que procurar ajuda. Boa parte das mulheres procura ajuda da justiça para impedir a aproximação de ex-parceiros e, infelizmente, algumas até perdem a vida", opina Thiago."80% dos casos de homicídio acontece porque a mulher acorda por algum motivo: ou pela família ou por campanhas feitas pelo governo. Quando essa mulher acorda e tenta romper, esse é o momento mais perigoso. Porque o assediador precisa da vítima. Tanto que os assediadores tendem a dizer que são muito apaixonados, loucos por amor. Quando ela rompe, aí ela sofre perigo de morte", explica Tatiana Pitta.
  • Tatiana explica que hoje não é mais a situação financeira que faz com que a mulher não rompa essa relação. Isso é um mito. O que faz a mulher não romper é a vergonha, o medo e a falta de percepção para entender que ela sofre violência. Por isso, a importância das campanhas sobre o tema."Muitas mulheres só percebem que são vítimas quando elas assistem a uma entrevista na TV, por exemplo. Até então elas pensavam que aquele comportamento do parceiro era normal. Dou palestras e muitas mulheres me procuram para dizer que não sabiam que essas atitudes eram uma forma de violência. Para elas, violência é apanhar, tentativa de homicídio, e não xingamentos e humilhações", diz a advogada.

Insultos, ameaças, gritos, críticas, proibições e a ridicularização na frente de amigos e família. Submissão, autoestima baixa e até depressão caracterizam a mulher que vive uma situação de agressão moral em sua relação amorosa. A agressão conjugal contra a mulher, geralmente, é silenciosa e, muitas vezes, amigos e até a própria família não percebem as agressões por parte do parceiro. O problema é que essa agressão não deixa consequências físicas e, por isso, muitas mulheres se calam diante desses casos.
Veja  mais :
http://www.msn.com/pt-br/estilo-de-vida/relacionamentos/ass%C3%A9dio-moral-no-relacionamento-voc%C3%AA-%C3%A9-v%C3%ADtima/ss-BBgIhea?ocid=mailsignout#image=2
Postado por às

Um comentário:

Assinar: Postar comentários (Atom)